Aqui há tempos tropecei numa proposta para o Orçamento Participativo de Lisboa que me cativou imediatamente, o projecto do Jardim do Caracol da Penha, que visa reivindicar a preservação, desenvolvimento e abertura a todos os cidadãos, de um jardim onde a Câmara Municipal e a EMEL querem construir [mais] um parque de estacionamento de automóveis com umas “áreas verdes”.
O que tem esta antiga quinta, abandonada há décadas, de tão especial? Cliquem no site e oiçam.
É como o Jardim da Cerca da Graça, está rodeado de casas, não há estradas ao lado, não se dá pelo barulho do tráfego automóvel, ouvem-se só os pássaros! E as pessoas! E, essencialmente:
É importante sublinhar que este é o último espaço não construído desta zona da cidade e que é a única (e última…) oportunidade de se criar um jardim numa zona fortemente carenciada de espaços verdes.
Rita Cruz, em The Uniplanet
À vontade da CML/EMEL de gastarem 2.2 milhões de euros para enfiar ali 86 automóveis, privados, de residentes, contrapôs-se a vontade de um grupo crescente de residentes, empresas, associações, e outros, para se aproveitar e recuperar o espaço para criar um jardim. Um verdadeiro jardim, sem carros.
Porque a função da Câmara não é a de substituir as empresas exploradoras de garagens e parqueamentos, nem de subsidiar transporte privado (ainda mais um tão ineficiente e com tantas externalidades negativas). Se há efectivamente falta de estacionamento haverá uma oportunidade de negócio, que deve ser deixada para os privados. Esses 2.2 milhões de euros seriam melhor aplicados a resolver a falta de transportes públicos, de acessibilidade universal, as pobres condições das paragens de autocarros, a falta de condições para quem se desloca a pé, etc, etc.
Em duas freguesias onde não há jardins / parques verdes em número, dimensão e qualidade suficientes para servirem as necessidades e desejos da população, a prioridade deveria ser óbvia:
Entre ter que conduzir durante mais 2 ou 3 minutos para encontrar um sítio para estacionar, e ter o meu filho a jogar à bola no parque, eu prefiro ter o meu filho a jogar à bola no parque.
Edgar Oliveira, em Portugal em Direto @ RTP
A explicação, sumarizada:
Termina hoje, 20 de Novembro de 2016, daqui a 2 horas, o período de votação de projectos para o OP. Votar é simples:
O trabalho destas pessoas neste movimento deixou-me impressionadíssima. A capacidade de mobilização, a quantidade e qualidade dos conteúdos criados, a dinâmica! E aderi logo que soube, com activismo de sofá como este post e pouco mais – como pude. O Roteiro pelo Caracol da Penha foi uma experiência de comunidade e de rua invulgar por cá e tocou-me. Renovou a minha própria confiança e energia para esforços de cidadania e activismo.
Às pessoas que lideraram e a todas as que aderiram a este movimento, deixo aqui a minha nota pública de gratidão. Espero que este jardim se torne uma realidade. Por uma cidade boa para viver!