Não sei porquê, mas em Lisboa acredita-se que só as pessoas no interior de automóveis é que precisam de saber que direcções podem tomar para chegar a determinado destino, e a que distância ele fica. Mesmo aí, somos pouco rigorosos, e quem anda de carro muitas vezes sofre com a inconsistência na sinalização…
Se andarmos a pé, de algum modo devemos saber instintivamente como chegar a qualquer sítio, não há sinais de indicação para o trânsito pedonal (que não tem igual acesso a muitas das vias rodoviárias, e por outro lado, tem acesso a caminhos vedados aos carros por lei ou por impossibilidade física, como escadas, túneis, elevadores, ruas de sentido único, etc). Quem anda de bicicleta sofre do mesmo.
Claro que isto não incentiva as pessoas a deslocarem-se a pé, principalmente numa cidade tão pouco permeável a quem se desloca a pé ou de bicicleta – é raro haver corredores pedonais a ligar as ruas, tem que se percorrer a rua toda para dar a volta e aceder à outra rua ao lado, e muitas vezes não existem acessos (ou não existem em número suficiente) que permitam às pessoas ultrapassar de forma directa, segura e confortável, barreiras como linhas férreas e auto-estradas.
Ora, (infelizmente) não estamos sozinhos, e há pessoas com ideias e, igualmente importante, com acções para corrigir este estado de coisas, como o Walk [Your City], que no nosso caso seria Walk Lisboa, um projecto de “urbanismo táctico participativo“.
Não é muito longe.
Planeia, desenhe e instale sinais de rua para pessoas, rápidos, leves e baratos.
A ideia é simples: um site onde qualquer pessoa pode ir, criar um conjunto de sinais de indicação para a circulação pedonal, encomendá-los, recebê-los pelo correio, em casa, e instalá-los na sua cidade.
O projecto, nos EUA, começou como uma acção de guerrilha, não pediram autorização nem licenças à câmara municipal para afixar os primeiros sinais.

Guerrilha (adj.): intervenções auto-iniciadas, espontâneas e não oficiais (pensadas para estar no espaço público para o bem colectivo). | Orientação (n.): como se encontra o caminho de um sítio para outro (orientação física)
Simplesmente procuraram que os sinais fossem fixos de forma facilmente removível (usam abraçadeiras plásticas) e fossem úteis.
É uma ideia inteligente e simples: os sinais não são autoritários nem irritantes; oferecem informação que encoraja os transeuntes a considerar caminhar, em vez de entrarem automaticamente no carro.

“É uma caminhada de 18 min até Glenwood South”. “É uma caminhada de 7 min até ao Cemitério Municipal de Raleigh”.
Um mês depois o Município mandou remover os sinais, mas deliberou que que fossem recolocados, no âmbito de um projecto piloto.
O projecto do site foi posteriormente financiado via Kickstarter em 2012. O vídeo abaixo apresenta e ilustra o conceito:
O site, repito, não permite apenas criar sinais. A Walk [Your City] imprime e envia (nos EUA, presumo) para a nossa morada (sinais e materias de instalação incluídos, terá sido para isso que receberem financiamentos diversos), regista quem usa os sinais tirando partido do código QR neles incluído, e criou uma comunidade online para as pessoas compararem notas e ideias acerca da promoção de cidades para viver e para caminhar. Cada sinal custa menos de 25 $.
Não percam a TED Talk que o Matt Tomasulo, fundador do projecto, deu em 2013, bem como esta reportagem da BBC.
Uma boa ideia a importar para Portugal.
Ideia bastante original e util. Como eu gostaria que se fizesse algo parecido por cá. As nossas ciclovias bem podiam ser o ponto de partida.